Com vocês era assim também?
Quando era criança me sentia a pessoa mais especial do mundo quando ia comprar legumes com meus pais e, vendo eles escolherem a batata, o limão, o tomate, arriscava sugerir um também… e minha escolha era aceita, indo parar dentro da sacola.
Essas coisas minúsculas, que com o passar do tempo a gente deixa de lembrar pelo cotidiano. As sugestões viraram aulas de como escolher bem uma cebola, uma cenoura. Até, mais tarde, ir sozinha para comprar itens faltantes para o almoço ficar pronto.
Tudo é muito diferente quando somos criança e saber que a gente esquece esses processos agora deu um gosto agridoce no meu domingo.
O que me lembra também do castigo mais sem noção que eu já recebi quando criança, que também tem a ver com isso. Meu pai estava colhendo limões no nosso pé que ficava no quintal de casa e eu quis ajudar. Era de noite já e eu só peguei o primeiro limão que vi na minha frente… Sem saber, peguei um limão verde (irônico, né) e meu pai não gostou nada daquilo.
Eu não sei se ele já estava irritado com alguma coisa para me castigar de forma descabida. Mas fui obrigada a chupar aquele limão verde, pela justificativa de que não deveria tê-lo pego. Criança dos anos noventa, né família.
Como sempre, Mariana levando a pior quando só tentou ajudar. Até hoje eu não aprendi a lição.
O QUE TAMBÉM ME LEMBRA (e agora parece que entrei num loop infinito de lembranças da minha infância)…
Lá em casa a gente só podia ter um telefone quando completasse 12 anos. Nunca esperei tanto por um aniversário e quando esse e finalmente chegou tudo o que eu queria era ganhar meu presente.
Pois bem, meu pai tinha telefone de conta que, na época, acumulava pontos que se trocava por um celular, claro, lá na época em que os dinossauros andavam na Terra (era assim que lá em casa tinha aparelhos, e sei nem se era verdade isso, mas era o que me contavam). No dia seguinte, fomos almoçar na casa dos meus avós e para chegar até a casa deles passávamos no terreno por uma subida, uma rampa, feita de cimento.
Eu amava brincar e agora com o telefone na mão estava fingindo fazer diversas ligações, brincando de secretária e o que mais desse na telha. O bendito celular escorregou da minha mão e caiu no chão, exatamente naquela rampa… ou seja, o telefone saiu deslizando no cimento do começo ao fim. Eu não estava 24 horas com o aparelho em minhas mãos e ele já estava completamente arranhado na parte de trás dele inteirinha. Eu chorei tanto, mas eu chorei tanto, que meu pai nem brigou comigo de tão desesperada que eu já estava. Nem precisou.
Toda vez que compro um celular novo, desde então, não me sinto segura até comprar capinha e película. Esse trauma ficou kkkkkkkkk
Além do dano no aparelho novinho, meu maior medo era continuar sendo taxada de irresponsável e que “tudo quebra na minha mão”, como já ouvia antes. Mas hoje eu olho pra trás e sei que eu só era uma criança que estava sendo criança. Parte de mim me sentia muito incapaz de ter as coisas sem estragar e me sentia muito mal porque eu sempre dei valor aos presentes que eu ganhava. Sabia que um telefone não era comprado em lojinha de 1,99.
Eu tenho certa dificuldade hoje em quebrar as coisas e aceitar que está tudo bem, parte de mim ainda espera um esporro chegar de algum lugar.
Ai, ai… a década de noventa. Ela machuca de um jeito diferente.
Lembrar disso tudo só me fez sentir mais saudade de casa. Agora vou esperar dar um horário decente e ligar pra minha família e recontar esses causos. Ver como que foi isso na visão da minha mãe kkkkkk agora a gente pode rir de tudo, e chorar só um pouco de noite no escuro.
Infelizmente ainda são 3 da manhã no Brasil enquanto escrevo essas palavras, então vou fazer meu almoço com os legumes que escolhi, porque agora sou adulta e obrigada a saber comprar tudo. E mesmo assim às vezes pego uma bandeja com uma fruta podre sem saber como foi possível não ter visto aquilo.
Na verdade, hoje eu queria muito o almoço de domingo da minha casa. Então, vou engolir a tristeza, colocar as músicas que tocam na cozinha da minha mãe e fazer a comida que não aparece mais magicamente pronta na mesa 12h.
E vou abraçar minhas gatas pra ver se melhora.
Comecei essa letter rindo e gostaria de dizer que não a terminei chorando, mas estaria mentindo.
Até a semana que vem. Bebam água e comam legumes no almoço,
Mare
Mare, que tal chamar de boas lembranças daqueles dias? bom, viu que não sou lá razoável em dar nomes as coisas, mas aqueles dias eram bacanas, inocentes, tinha um Sol quente pra fazer sombra, limões para serem apanhados direto do pé... e, bom domingo, saboreie os legumes pelo sabor deles.