Todas as coisas impossíveis que fazemos todos os dias
E mesmo assim continuam impossíveis
Nesses dois anos e meio de Alemanha eu aprendi algumas coisas. Metade delas aprendi na marra. Coisas que parecem mesmo que não tem como lidar… e ainda assim lido. Sei que você provavelmente também tem uma lista imensa de desafios diários que sempre acha que nunca vai dar conta… Sei bem como é.
Mas acontece que a gente dá conta. A gente sempre dá. Até o dia em que o cansaço vence, é claro. A gente precisa descansar das coisas impossíveis que fazemos todos os dias, sempre bom lembrar.
Aqui vão algumas das minhas, principalmente morando na terra da batata:
Nada é fácil, mas ser adulto é uma merda.
Não é fácil pra mim e certamente não é fácil pra você. A gente se perde no decorrer dos anos, que depois dos 18 passam rápido demais e a gente mal consegue acompanhar. Não lembro exatamente quando tudo deixou de ser acordar cedo pra ver desenho e acabou em acordar cedo e sair pra trabalhar ou ter que fazer a própria comida de forma ponderada, porque já sei ter colesterol alto.
Se descobrir adulto é um passo muito louco pra ser dado. A gente percebe que o tempo passou rápido demais e eu às vezes não sei se curti o processo ou se estava ocupada demais tentando vencer na vida através do estudo, ao invés de ter virado youtuber e me aposentado ates dos 30.
A gente paga nossas contas, nosso plano de saúde. As cartas chegam no nosso nome, pagamos imposto de renda. E pensar que nossos pais (alguns) já estavam com casa própria e filhos pra criar. Parece insanidade.
É difícil recomeçar, principalmente num idioma que eu tinha zero contato.
Precisar fazer cursinho, jogar praticamente fora meu diploma do Brasil. Recomeçar no trabalho, no contato social. Num lugar que não conheço, que não me conhecem. Onde ainda não conquistei nada.
Precisar me provar novamente… e não estou dizendo que é impossível, mas tem dia que parece. E também tem dia que é incrível, concordo. Mas é um esforço diário. Ainda que seja uma página em branco cheia de possibilidades, é assustador por ser uma página em branco cheia de possibilidades. Dá medo!
Sabem minha maior motivação para continuar estudando? Ter vocabulário suficiente para colocar o alemão no lugar dele. Ô bicho folgado, fofoqueiro e intrometido! Mas é só dar um fora bem dado que ele fica pianinho com você. Começam até a te respeitar e te tratar melhor. Só funcionam na base da comida de rabo humilhação com um fora daqueles. Viram gente na hora!
É difícil resolver meus próprios problemas e a regressão de achar que não sei fazer nada sozinha e precisar sempre de aprovação
To rindo, mas choro sempre que sou obrigada a resolver meus problemas e não posso jogar nas costas do meu marido pra ele se virar. Odeio ter que marcar médico e ir sozinha, mesmo que quando vá acompanhada eu resolva sem ajuda. Mas é a ansiedade e o mesmo medo de não conseguir.
Eu sempre acho que vou fazer papel de otária quando preciso fazer algo sozinha. Minha parte favorita de ir para o Brasil é poder ir na rua e me resolver por conta própria. Que eu posso ir num lugar e falar tudo o que eu quero, posso me explicar livremente e posso ser eu.
E aqui eu sou uma versão simplificada, que sente que precisa de alguém pra validar o que fala e ter um ponto de apoio pra se algo diferente precisar ser dito… E esse sentimento é uma merda.
Meu império romano são as amizades e como eu não consigo mais fingir ser quem não sou pra manter contato social. Não sei mais correr atrás dos outros, porque fiz muito isso e não terminou bem (pra mim).
A gente acaba por dar tudo o que tem até não sobrar nada de nós mesmos… e quando nos damos conta nosso papel é a importância que damos a alguém e o quanto ela precisa de nós para satisfazer suas próprias necessidades. E é tudo unilateral, a amizade era o que a gente mesmo fantasiou sobre ela. E dói descobrir. Dói por um tempão.
E hoje eu não sei mais como se faz amigos. Onde vivem, do que se alimentam como se reproduzem.
E sinceramente morro de medo de criar expectativas. Com um fuso horário de 4-5 horas de diferença também complica me fazer presente. Mas eu dou meu melhor (quando fazem o mesmo por mim, claro).
E eu respiro fundo. Vejo quem ficou (poucos, viu? muito poucos…) e sou grata. É que quando escolhemos nós mesmos quase ninguém fica pra ver.
Atualizações semanais pra vocês com coisas que eu mandaria no whatsapp:



Já é natal nos mercados aqui e tem panettone no mercado!!!! Será que já posso inaugurar a era Marettone desse ano? Vocês já sabem dessa história, né? Que eu comi tanto panettone que fui parar no hospital de tanto passar mal kkkkkkk eu amo Tá custando 4,99€ e esse nem é dos melhores. O mais maneiro que eu comi foi um de Tiramisù que comprei ano passado…. meu deus como era maravilhoso! Vou tentar encontrar mais uma vez esse ano! É difícil, esses trufados só em mercado grande e eu moro numa microcidade, então já sabem…
Somos oficialmente donos e proprietários de uma batedeira. Depois de três anos! Nunca pensei que fosse tão caro por aqui… uma completa, com bowl e tudo custa no mínimo 60€… e uma com péssimas avaliações. Mas essa estava na promoção e fizemos o famoso: coloca no cartão e vemos depois. A título de curiosidade, essa daí estava de 120 por 70. Será que conta como um bem? Será que preciso fazer um seguro ou informar no imposto de renda????? Me mandem receitas agora que preciso usar a MÁQUINA.
E estou tentando estudar (aham, pra dar fora no alemão). Mas essa semana foi difícil, acordar 4 da manhã pra trabalhar me quebrou e estudei pouco. Espero que semana que vem melhore. Me desejem sorte e força de vontade #prayformaredarforaemalemãosafado
Acho que é isso. Caso queira comentar algo é só responder esta letter como um email normal!
Estou testando se mando a newsletter aos domingos porque é minha folga fixa. O que achamos, família?
Bem, enquanto o twitter tá banido eu estou lá no bluesky: @marealvares.bsky.social se você também estiver por lá, dê um alô!
Até a próxima,
xoxo, a garota da newsletter